Europa deve ser 'construtora de pontes' para paz na Ucrânia, diz papa
O papa Francisco pediu, nesta quarta-feira (2), que a Europa seja "construtora de pontes" para a paz na Ucrânia, neste início de sua visita de cinco dias a Lisboa para participar da multitudinária Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Ao desembarcar no aeroporto militar, o jesuíta argentino, de 86 anos, foi recebido com honras militares antes de iniciar uma intensa agenda de compromissos na capital portuguesa, onde são esperados, até domingo, cerca de um milhão de jovens católicos de todo o mundo.
"Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a carateriza, apetece perguntar-lhe: para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo?", questionou o papa, de 86 anos, durante seu primeiro discurso às autoridades e ao corpo diplomático no centro cultural de Belém.
"O mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente", destacou.
"No oceano da história, estamos a navegar num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz", lamentou o jesuíta argentino, que pediu repetidamente pela paz na Ucrânia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022.
Nesta cidade onde foram construídos ritos fundamentais para o caminho da comunidade europeia, com assinatura do Tratado de Lisboa em 2007, Francisco recordou "o sonho europeu de um multilateralismo mais amplo do que o mero contexto ocidental", capaz de "captar o mais débil sinal de distensão e de o ler por entre as linhas mais tortas da realidade".
Pouco antes, Francisco havia se encontrado no Palácio de Belém com o presidente português, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, após atravessar a cidade, tomada pela JMJ.
Ao som de seus tambores e entoando canções como "Esta é a juventude do papa", centenas de peregrinos esperavam desde o início da manhã para receber um pontífice muito popular entre os jovens fiéis.
"Nós o amamos muito, porque ele nos transmite o amor que Deus tem por nós. Acho que o fundamental é carisma dele", disse Byron Santiago Chojolar, um peregrino de 26 anos oriundo da Guatemala.
"A diferença em relação aos outros papas é que ele é latino-americano", disse Samuel Namaver, um estudante americano de 17 anos. "Ele gosta de contato, de brincadeira, faz muitas referências de futebol (...) Sabe como chegar ao nosso coração", acrescentou.
Os organizadores esperam a participação de um milhão de peregrinos no total nesta semana de encontros festivos, culturais e espirituais.
- Território JMJ -
Nos últimos dias, a capital portuguesa se encheu de coloridos grupos de jovens que levam bandeiras de todo o mundo pelas ruas desta cidade. Cerca de 16 mil profissionais de segurança, proteção civil e emergência médica foram mobilizados por ocasião do evento.
"Tenho uma expectativa muito alta. Aproveitei muito a visita ao Panamá e queria vivenciar uma jornada fora do meu país", disse Leslie, uma estudante de 20 anos desse país centro-americano, sede da última edição realizada em 2019.
A menos de dois meses do início de uma assembleia, em Roma, sobre o futuro da Igreja, a JMJ também atuará como um termômetro sobre a posição dos jovens católicos em relação a questões como o tratamento das pessoas LGBTQIA+, o casamento dos padres, ou a posição das mulheres.
Antes de seu primeiro encontro com os jovens, na quinta-feira (3), a agenda de Francisco está dedicada, nesta quarta, às autoridades e ao clero deste país. Em Portugal, cerca de 80% de seus 10 milhões de habitantes se definem como católicos.
- Vítimas de pedofilia -
Quarto papa a visitar Portugal, onde já esteve em 2017, Francisco pode aproveitar a JMJ para abordar a delicada questão dos abusos sexuais de menores de idade na Igreja, seis meses após a publicação de um relatório impactante de uma comissão de especialistas independentes.
Divulgado em fevereiro após a investigação solicitada pela Conferência Episcopal portuguesa, o documento revelou que 4.815 menores foram vítimas de abusos sexuais em um ambiente religioso desde 1950. As agressões foram ocultadas pela cúpula eclesiástica de forma "sistemática", segundo o relatório dos especialistas.
De acordo com a Conferência Episcopal e a direção do comitê organizador local da JMJ, o papa deve reunir-se em caráter privado com vítimas dos abusos, mas o encontro não aparece em sua agenda oficial.
No sábado (5), Francisco fará uma rápida visita ao santuário de Fátima, antes de retornar a Lisboa para participar em uma grande vigília e presidir a missa final da JMJ no domingo.
Considerada a maior reunião internacional de católicos, a JMJ foi criada em 1986 por iniciativa de João Paulo II. A edição de Lisboa deveria ter acontecido em 2022, mas foi adiada devido à pandemia.
Depois dos encontros no Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019), esta é a quarta JMJ para Francisco, cuja saúde parece cada vez mais frágil. Hospitalizado três vezes desde 2021, o pontífice argentino se desloca atualmente em uma cadeira de rodas, ou com o auxílio de uma bengala.
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T.Murray--NG