Nottingham Guardian - Da reeleição aos panelaços, um ano de desencanto com Macron na França

Da reeleição aos panelaços, um ano de desencanto com Macron na França
Da reeleição aos panelaços, um ano de desencanto com Macron na França / foto: Daniel Cole - POOL/AFP

Da reeleição aos panelaços, um ano de desencanto com Macron na França

Em abril de 2022, diante da Torre Eiffel, o presidente Emmanuel Macron prometeu unir os franceses, após derrotar sua adversária de extrema direita Marine Le Pen. Um ano depois, sua impopular reforma da Previdência o mergulhou em uma profunda crise.

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"A partir de agora, (...) [sou] o presidente de todos", assegurou então Macron, que prometeu governar com um "método renovado" e responder à "raiva" dos que votaram em Le Pen, consciente de que ganhou, em parte, graças à rejeição à sua adversária.

Porém, não o fez. Os panelaços que o perseguem a cada ato desde a semana passada demonstram o mal-estar com a forma de governar do liberal, que endureceu por decreto as regras para ter acesso a uma aposentadoria integral apesar da rejeição popular.

Embora faltem quatro anos para a eleição presidencial de 2027, para a qual Macron não pode concorrer, "a hipótese de que [Marine Le Pen] possa chegar ao poder não pode ser descartada", disse à Radio Classique o analista de pesquisas de opinião Bernard Sananès.

O "ponto de inflexão" no último ano, para Sananès, foi em março, quando recorreu ao artigo 49.3 da Constituição para atrasar a idade de aposentadoria de 62 a 64 anos, sem a votação do Parlamento, onde temia ser derrotado.

Esta decisão minou sua popularidade. Com 26%, se aproxima de seu nível mais baixo desde o protesto social dos "coletes amarelos" que sacudiu seu primeiro mandato e deixou imagens como o Arco do Triunfo vandalizado em dezembro de 2018.

Esta crise começou a formar uma imagem de presidente "autoritário" e "desconectado" da realidade, criticado por seus opositores, que conseguiu superar com sua gestão da pandemia e dos efeitos da invasão russa da Ucrânia.

"Na época dos coletes amarelos, Macron se apresentava como uma muralha contra a desordem", mas agora "para muitos franceses, ele é o caos", advertiu na rádio Europe 1 Frédéric Dabi, do instituto de pesquisas Ifop.

Desde a imposição de sua lei, os protestos se radicalizaram e passaram de críticas à sua reforma para sua reprovação. A maioria dos franceses, segundo as pesquisas, o considera responsável pelos distúrbios por não ouvir a rejeição popular.

- "Mais isolado que nunca" -

Nesta segunda-feira, a imprensa francesa destacou que Macron está "mais isolado que nunca", como afirmou o diário de esquerda Libération, que questionou como conseguirá relançar seu segundo mandato até 2027.

O presidente se deu 100 dias "de apaziguamento, de unidade, de ambição e de ação", até o feriado nacional de 14 de julho. Sua primeira ministra, Élisabeth Borne, --ainda mais impopular-- apresentará na quarta-feira suas diretrizes pós-reforma.

O presidente de 45 anos também retomou suas viagens pela França para apresentar seu novo "rumo", concentrado em educação, reindustrialização, emprego e saúde, e recuperar terreno político, apesar do som dos panelaços.

"Preciso voltar a participar do debate público", assegurou ao jornal Le Parisien, reconhecendo que cometeu o "erro" de não estar "presente o suficiente" para defender sua reforma e que Le Pen chegará ao poder se não souber "responder aos desafios do país".

Sem maioria absoluta no Parlamento desde junho, isto poderia, além de tudo, segundo o especialista, recuperar o apoio da oposição de direita do partido Os Republicanos, chave na reforma da Previdência, mas que se dividiu no decorrer do trâmite.

O.Somerville--NG