Avião usado em 'voos da morte' da ditadura retorna à Argentina
O avião Skyvan PA-51, utilizado em 1977 para lançar vivas ao mar três Mães de Praça de Maio e duas freiras francesas em um dos "voos da morte", retornou à Argentina nesta sexta-feira (23) para ser exibido como testemunho da violenta ditadura.
"O avião é algo tenebroso para nós, mas, tendo o identificado e encontrado, não podemos permitir que siga voando", disse à AFP Mabel Careaga, uma das responsáveis pela repatriação do aparelho que pertenceu a Prefeitura Naval.
Na última década, o avião pertenceu a uma empresa privada americana que o utilizava para saltos de paraquedas.
A aeronave aterrissou na noite desta sexta no aeroporto de Tucumán, segundo constatou a AFP. O aparelho seguirá depois para Buenos Aires, onde é esperado na segunda.
Mabel Careaga é filha de Esther Ballestrino, que foi lançada ao mar deste avião militar junto com as também fundadoras da organização Mães da Praça de Maio, Azucena Villaflor e María Ponce, as religiosas francesas Alice Domon e Léonie Duquet e outros sete ativistas em um voo realizado na noite de 14 de dezembro de 1977, segundo a reconstituição judicial.
"É horrível demais imaginar minha mãe ali", assinalou Careaga, que, ao lado de Cecilia de Vicenti, de 62 anos e filha de Azucena, quer que o aparato fique em exposição no prédio da Escola de Mecânica da Marinha, antigo centro clandestino de detenção por onde passaram cerca de 5.000 presos e que hoje é o Museu de Memória ExESMA, em Buenos Aires.
A iniciativa tem o apoio do governo, mas é rejeitada por algumas organizações de direitos humanos que preferem "não fazer show da morte".
"O avião é parte da história, que é dolorosa, mas é preciso contá-la", opinou De Vicenti.
Cerca de 30.000 pessoas desapareceram na ditadura argentina. Os aviões Skyvan realizaram mais de 200 voos noturnos suspeitos entre 1976 e 1978, segundo os registros da Prefeitura Naval. Também houve voos das outras forças militares.
Passaram 15 anos desde que o Skyvan PA-51 foi encontrado nos EUA para que Mabel Careaga e Cecilia De Vicenti decidissem promover sua repatriação, com o apoio da Mãe da Praça de Maio-Linha Fundadora Taty Almeida. O ministro da Economia, Sergio Massa, deu a autorização.
Após meses de espera e diversos trâmites, o avião partiu de Chicago no dia 3 de junho rumo ao Aeroparque de Buenos Aires, uma viagem que agora chega a seu fim.
O.F.MacGillivray--NG