Nottingham Guardian - Rússia intensifica o cerco aos últimos civiles no leste da Ucrânia

Rússia intensifica o cerco aos últimos civiles no leste da Ucrânia
Rússia intensifica o cerco aos últimos civiles no leste da Ucrânia / foto: Florent VERGNES - AFP

Rússia intensifica o cerco aos últimos civiles no leste da Ucrânia

Ao longo da estrada que leva a Kurakhove, leste da Ucrânia, é possível observar casas fantasmas, destruídas por bombas, com verduras apodrecendo em jardins abandonados.

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A região e seus vilarejos estão cercados atualmente por forças russas, que avançam para o norte, sul e leste, forçando a população a fugir de suas casas.

O Exército russo avança de maneira constante na região, que contém uma importante reserva de lítio e fica ao sul de Pokrovsk, uma cidade industrial e importante centro logístico para as forças ucranianas.

Esta é a região em que a Rússia conseguiu seu maior avanço desde o início de outubro, segundo uma análise da AFP baseada em dados do americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW).

- "Salvem suas vidas" -

Na cidade vizinha de Andriivka, as barracas do pequeno mercado são tão escassas como o número de clientes, pois a maioria dos civis fugiu da região.

"São os últimos pães, leve com você", afirma um vendedor a um cliente.

Apesar das bombas russas que "voam todos os dias", Anatolii ficou para atender os clientes na última loja de alimentos da região e para ajudar os idosos e deficientes das localidades vizinhas que ainda não foram levados para outras cidades: "Aqueles que não têm para onde ir, aqueles que não têm dinheiro ou parentes".

Mas quando cortarem a energia elétrica, o vendedor de 37 anos planeja se juntar à esposa e ao filho, que já abandonaram a cidade e"viram o suficiente em três anos de guerra" entre Rússia e Ucrânia.

As estradas da região estão cheias de micro-ônibus com a palavra "evacuação". Os telefones celulares recebem apelos de fuga: "Queridos habitantes da região de Donetsk: Salvem suas vidas e as de seus entes queridos! Saiam!", afirmam as mensagens.

Fedir Gjyvin, 69 anos, não planeja deixar a região. O pequeno local onde se abriga durante os ataques russos está repleto de legumes em frascos para suportar o inverno.

Para garantir o aquecimento, ele afirma que vai procurar uma mina da região para pegar carvão.

Ele afirma que vai encontrar a filha, que mora 400 km ao oeste, caso as tropas terrestres russas alcancem a localidade.

"Mas eu tenho tempo", diz, apesar do anúncio da Rússia de que assumiu o controle de Voznesenk, a apenas 15 km de distância.

- "Queremos a paz" -

Rio acima, um dos reservatórios do lago artificial de Kurakhove foi danificado por um disparo russo, segundo o governador regional, o que provocou temores de uma inundação.

Na localidade de Dachne, próxima do lago e da linha de combate, as fachadas das casas estão cobertas de fuligem e o som de explosões de artilharia não dá trégua.

Uma oradora, Olga, observava em uma rua deserta uma nova cratera provocada por outro projétil russo. Ela espera "a paz em 24 horas" prometida pelo presidente eleito americano, Donald Trump.

"Só queremos a paz, mesmo que signifique negociar com o diabo", declarou a professora de 59 anos, cuja escola agora é uma pilha de escombros.

Quase 15 km ao oeste fica a fronteira entre a região de Donetsk e Dnipropetrovsk, para onde segue o Exército russo.

As linhas defensivas construídas recentemente se estendem por vários quilômetros.

Cada bosque é uma zona defensiva, cada campo é atravessado por novas trincheiras, além de arames farpados e blocos de concreto, o que aumenta o temor de novos avanços russos.

W.P.Walsh--NG