Nottingham Guardian - G20 fica longe de destravar COP29 apesar dos pedidos para conter crise climática

G20 fica longe de destravar COP29 apesar dos pedidos para conter crise climática
G20 fica longe de destravar COP29 apesar dos pedidos para conter crise climática / foto: Pablo PORCIUNCULA - AFP

G20 fica longe de destravar COP29 apesar dos pedidos para conter crise climática

A cúpula do G20 no Rio de Janeiro obteve poucos avanços climáticos em sua declaração final, revelada nesta segunda-feira (18), na qual incluiu pedidos de cessar-fogo em Gaza e Líbano, e também apoiou "iniciativas" para uma paz "justa e duradoura" na Ucrânia.

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As decisões dos principais líderes mundiais eram muito esperadas para tentar fazer avançar as negociações climáticas na COP29 de Baku, no Azerbaijão, paralisadas em torno do financiamento contra a crise ambiental e a transição de energias fósseis para fontes limpas.

Mas a declaração final evitou mencionar o compromisso que a comunidade internacional adotou na COP28 de abandonar progressivamente a dependência de energias fósseis, apesar do apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, para que houvesse "concessões" para salvar o planeta.

"Os líderes estão devolvendo a bola para Baku, mas o problema é que quem pode tomar as decisões [os próprios líderes] está no Rio", disse à AFP Mick Sheldrick, cofundador da ONG Global Citizen.

"Não estão à altura", não há "nem sequer uma referência do que se conseguiu na COP28", acrescentou. "Isto provavelmente vai dificultar a consecução de um acordo" em Baku.

- O peso de Trump -

Um acordo nesse sentido dos dirigentes das principais economias, que representam 85% do PIB mundial e 80% das emissões de carbono, também era esperado devido ao retorno iminente de Donald Trump à Casa Branca em janeiro.

O republicano garante que voltará a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, o que poderia prejudicar os esforços da comunidade internacional.

Apesar da vontade da presidência brasileira do G20 de tirar a guerra do foco, houve pedidos mais concretos para aliviar os conflitos na Ucrânia e entre Hamas, Hezbollah e Israel.

Sem mencionar Israel, pediram um "cessar-fogo completo" em Gaza e no Líbano "que permita aos cidadãos retornarem com segurança a seus lares em ambos os lados da Linha Azul", que delimita a fronteira entre o territórios libanês e israelense.

Também sem fazer referência à Rússia, representada no Rio pelo chanceler Sergei Lavrov, compartilharam seu apoio a iniciativas "relevantes e construtivas" para uma "paz ampla, justa e duradoura" na Ucrânia, uma mensagem muito similar a da declaração da cúpula de 2023.

O texto final chega um dia depois de o governo de Joe Biden autorizar Kiev a usar mísseis americanos de longo alcance contra alvos militares russos, uma decisão que, para o Kremlin, "põe mais lenha na fogueira".

- Apesar de Milei, Brasil conquista vitórias -

 

Apesar das poucas conquistas em temas-chave, o país anfitrião obteve algumas vitórias em iniciativas que são suas bandeiras: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu a adesão de 82 países para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e que o G20 se comprometesse a fazer com que os super-ricos "efetivamente" paguem impostos.

A iniciativa contra a fome busca acabar com essa "acabar com essa chaga que envergonha a humanidade", nas palavras de Lula, até 2030, assim como a pobreza e que se consiga reduzir as desigualdades.

As vitórias de Lula, no entanto, tiveram uma sombra: o presidente argentino Javier Milei, com quem mantém uma relação tensa desde antes de o político ultraliberal assumir o poder em dezembro.

Milei firmou o documento final, mas sem acompanhar temas como "a limitação da liberdade de expressão nas redes sociais" ou a "noção de que uma maior intervenção estatal é a forma de lutar contra a fome", segundo um comunicado oficial.

Os dois protagonizaram um encontro cheio de tensão. Ao se cumprimentarem, mal se entreolharam e posaram para as câmeras com semblante sério e distante, o que contrastou com as outras saudações feitas pelo anfitrião.

O argentino repostou mais tarde, nas redes sociais, um vídeo com imagens do incômodo momento com Lula, no qual aparece na sequência imagens de Milei cumprimentando efusivamente o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Y.Urquhart--NG