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Trump chama Zelensky de 'ditador' e Putin elogia diálogo entre Rússia e EUA
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou nesta quarta-feira (19) novas críticas ao contraparte ucraniano, Volodimir Zelensky, chamando-o de "ditador" depois que ele disse que o republicano vive em "um espaço de desinformação" russa.
Os dois chefes de Estado trocaram ataques pessoais sem precedentes um dia após as negociações russo-americanas na Arábia Saudita. Foram as primeiras ao nível de chefes da diplomacia dos Estados Unidos e da Rússia desde que Moscou invadiu o território ucraniano em fevereiro de 2022.
"Um ditador sem eleições deve agir rapidamente ou não terá país", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social. "Amo a Ucrânia, mas Zelensky fez um trabalho terrível", acrescentou.
Seu mandato terminou em 2024, mas a Ucrânia não realizou eleições devido à guerra, à lei marcial e ao fato de que milhões de ucranianos fugiram de um país com 20% do território sob ocupação russa.
É "falso e perigoso negar ao presidente Zelensky sua legitimidade democrática", reagiu o chanceler alemão, Olaf Scholz.
Mais cedo, Zelensky, já criticado pelo republicano na véspera, estimou que Trump vive "em um espaço de desinformação" russa. Também acusou o governo americano de ajudar o presidente russo, Vladimir Putin, a "sair de anos de isolamento" pelo Ocidente.
Nesta terça, Trump lançou um ataque verbal inédito contra o líder ucraniano, questionando a legitimidade e o desejo de encontrar uma solução para o conflito, além de parecer considerá-lo responsável pela invasão de seu país pela Rússia.
As declarações do presidente dos Estados Unidos chocaram a Ucrânia. "Tenho a impressão de que Trump tem medo de Putin", reagiu Ivan Banias, um militar de 51 anos entrevistado pela AFP em Kiev.
- Reforçar a "confiança" -
Outra habitante da capital ucraniana, Svitlana Oleksandrivna, de 65 anos, acusou Trump de ser "completamente moscovita, como se o Kremlin escrevesse tudo para ele".
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, por sua vez, elogiou a franqueza do presidente americano. "Pessoas como ele geralmente não escondem o que pensam de indivíduos patéticos como o senhor Zelensky", disse.
Putin saudou a retomada do diálogo russo-americano. "Sem reforçar o nível de confiança entre a Rússia e os Estados Unidos, é impossível resolver inúmeros problemas, incluindo a crise ucraniana", declarou na televisão pública russa.
Rubio e Lavrov concordaram em negociar sobre a Ucrânia, sem convidar Kiev nem os europeus, que temem um acordo às suas custas e contra seus interesses.
- "Reunir-me com Donald" -
"Adoraria reunir-me com Donald [Trump] [...] E acho que ele também gostaria", acrescentou Putin, especificando, porém, que não sabe quando tal encontro poderia acontecer.
O líder russo também acusou os ucranianos e os europeus de estarem contra as negociações.
A tarefa de esclarecer a posição de Washington agora cabe ao enviado do presidente americano para a Ucrânia, Keith Kellogg, que chegou à Ucrânia nesta quarta-feira, pouco depois de Odessa, uma importante cidade portuária no sul do país, ter sido alvo de um intenso bombardeio russo que deixou cerca de 160 mil moradores sem eletricidade e aquecimento no auge do inverno.
Kellogg adotou um tom conciliador. "Entendemos a necessidade de garantias de segurança" da Ucrânia, afirmou.
Zelensky disse esperar que o encontro entre os dois na quinta-feira resulte em um diálogo "construtivo" e que a guerra com a Rússia termine em 2025.
Também garantiu que seu país "não está à venda", depois de se recusar no sábado a assinar um acordo proposto pelos Estados Unidos sobre os recursos minerais ucranianos.
- "Não está à venda" -
Ele também assegurou que seu país "não está à venda", após se recusar no sábado a assinar um acordo proposto pelos Estados Unidos sobre os recursos minerais de seu país.
Dois dias após uma primeira pequena cúpula informal no Eliseu com sete países europeus, incluindo o Reino Unido, o presidente francês, Emmanuel Macron, reuniu nesta quarta em videoconferência 19 chefes de Estado e de governo de países membros da UE ou da Otan para tentar encontrar uma posição comum sobre a Ucrânia e a defesa coletiva.
Entre as críticas a Kiev, Trump afirmou que Washington deu "350 bilhões" (1,9 trilhão de reais) de dólares à Ucrânia desde o início da guerra e acusou Zelensky de não saber "onde estava metade do dinheiro".
O Instituto Econômico IfW Kiel, no entanto, estima a ajuda americana em 114,2 bilhões de dólares (651,8 bilhões de reais) desde 2022.
No terreno, Putin disse nesta quarta-feira que combatentes russos atravessaram a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia - declarações classificadas como "mentira" pela Ucrânia.
J.Fletcher--NG