Nottingham Guardian - Guerra volta a se intensificar em Gaza sem nova trégua à vista

Guerra volta a se intensificar em Gaza sem nova trégua à vista
Guerra volta a se intensificar em Gaza sem nova trégua à vista / foto: John MACDOUGALL - AFP

Guerra volta a se intensificar em Gaza sem nova trégua à vista

Israel continuou seus bombardeios mortais contra a Faixa de Gaza neste sábado (2), após o fim de uma semana de trégua com o Hamas, e enfrentou uma salva de foguetes lançados do território palestino.

Tamanho do texto:

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que Israel continuará a guerra contra o Hamas "até alcançar todos os seus objetivos", que incluem a libertação dos reféns israelenses capturados no ataque de 7 de outubro e a eliminação do movimento islamista palestino no poder em Gaza desde 2007.

"Nossos soldados se prepararam durante os dias de trégua para uma vitória total contra o Hamas", declarou Netanyahu na sua primeira coletiva de imprensa desde a retoma dos combates na manhã de sexta-feira.

O exército israelense informou que desde o fim da trégua atacou "mais de 400 alvos" em Gaza, 50 deles na região de Khan Yunes (sul), onde o necrotério do principal hospital está em colapso, segundo um correspondente da AFP.

O Ministério da Saúde do governo do Hamas disse que 240 pessoas foram mortas e 650 ficaram feridas desde que a trégua expirou na sexta-feira.

Em Israel, a defesa passiva, responsável pela proteção da população, relatou neste sábado mais de 40 alertas de foguetes no centro e sul do país, que não deixaram vítimas.

- Israel se retira das negociações -

Israel nunciou que se retirou das negociações de Doha que conduziram ao cessar-fogo de 24 de novembro, mediado pelo Catar e apoiado pelo Egito e Estados Unidos.

"Devido ao bloqueio nas negociações e sob a direção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o chefe do Mossad, David Barnea, ordenou que a sua equipe em Doha retornasse a Israel", disse o gabinete de Netanyahu.

Os dois lados acusaram-se mutuamente pelo fim da trégua na sexta-feira. Israel acusou o Hamas, organização considerada terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, de tentar atacá-lo com foguetes durante a trégua e de não apresentar uma lista de reféns a serem libertados.

O Hamas, por sua vez, afirmou que propôs "uma troca de prisioneiros e idosos" e a entrega dos corpos de reféns "que perderam a vida nos bombardeios" israelenses em Gaza, mas que Israel, "que já havia decidido retomar a agressão, não respondeu".

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrando cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma campanha de ataques aéreos e terrestres em Gaza que, de acordo com o governo do Hamas, deixou mais de 15.000 mortos, a maioria civis.

A semana de trégua permitiu a troca de dezenas de reféns nas mãos do Hamas por prisioneiros palestinos em Israel e facilitou a entrada de ajuda na Faixa de Gaza.

Das 240 pessoas capturadas e levadas para Gaza, 137 permanecem no enclave e 110 - entre israelenses e estrangeiros - foram liberadas, segundo o governo israelense.

Autoridades internacionais e grupos humanitários condenaram a volta dos combates.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que lamenta "profundamente" o reinício das hostilidades, em mensagem na rede social X.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, declarou que seu país continuará "intensamente focado" em libertar os reféns mantidos em Gaza.

Israel promete "aniquilar" o Hamas, um objetivo que gera preocupação até mesmo entre seus aliados, devido à exposição aos ataques dos 2,4 milhões de habitantes do território de 362 km2.

"O que é a destruição total do Hamas? Alguém acredita que é possível? Se for, a guerra durará dez anos", alertou o presidente francês, Emmanuel Macron, em Dubai, onde participa da COP28.

"A luta eficaz contra o terrorismo não envolve bombardeios sistemáticos e constantes", acrescentou.

- Outras frentes -

O Ministério sírio da Defesa denunciou bombardeios israelenses perto de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) afirmou que quatro combatentes pró-iranianos morreram em ataques aéreos israelenses contra instalações pertencentes ao movimento libanês Hezbollah, perto da capital síria.

Antes disso, o Hezbollah, aliado do Hamas, informou a morte de dois de seu membros em bombardeios israelenses no sul do Líbano, onde também morreu um civil.

Os Guardiões da Revolução, o exército ideológico do Irã, anunciaram que Israel matou dois dos seus membros que realizavam uma "missão" na Síria.

O exército israelense não comentou estes ataques.

- "Filme de terror" -

Guterres alertou para uma "catástrofe humanitária" em Gaza onde, segundo a ONU, 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas e carecem de alimentos, água e outros bens devido ao cerco de Israel ao estreito território.

O Crescente Vermelho Palestino disse neste sábado que "recebeu caminhões com ajuda" através do posto de fronteira de Rafah com o Egito, os primeiros desde o término da trégua.

"O serviço de saúde está de joelhos", declarou Rob Holden, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a jornalistas em Gaza. "É como um filme de terror", acrescentou.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou que o hospital Al Awda, um dos poucos ainda em operação no norte da Faixa, foi parcialmente atingido por um ataque na sexta-feira.

Fadel Naim, médico-chefe do hospital Al Ahli, na cidade de Gaza, relatou à AFP que, neste sábado, o necrotério recebeu 30 corpos, incluindo os de sete crianças.

"Os aviões bombardearam nossas casas: três bombas, três casas destruídas", contou Nemr al Bel, de 43 anos, que detalhou que 10 membros de sua família morreram e "outros 13 ainda estão sob os escombros".

burs-mca/dhw/mas/atm/hgs/jc/ic

Y.Urquhart--NG